A manhã de Sunagakure estava como todas as outras. A atmosfera exalava uma certa calma, e o calor excessivo se mantinha no ar. Não haviam nuvens no céu, nem mesmo nos contornos daquele grande cenário, até onde meus olhos conseguiam avistar. Aves também não preenchiam o azul da abóbada, e somente o barulho dos ventos e dos transeuntes repercutiam pela área central do vilarejo. Uma grande feira estava montada ali, com inúmeras barracas espalhadas, tendas multicoloridas que comercializavam inúmeros serviços. Muitas vendiam frutas e legumes, algumas vendiam iguarias, e outras ofereciam roupas específicas para o ambiente seco do deserto. Enquanto caminhava pela região, observava as atrações com gosto. Em meio à cacofonia, via as pessoas ajudando umas às outras, uma solidariedade que aquecia o interior de meu corpo. Sunagakure desde sempre foi uma vila receptiva, e isso me fazia querer defendê-la, atuando como um shinobi.

De súbito, meus olhos se encontraram com algo peculiar. Meus passos pararam imediatamente, e girei meu corpo na direção do achado. Na vitrine de uma pequena barraca bege – que em um passado certamente era branca, mas estava um pouco velha e com o tecido encardido –, havia um livro de bolso, pequeno em tamanho, mas repleto de páginas. Minha vista brilhou ao se aproximar da obra e ler o seu título, contatando: A arte do Ninjutsu, volume III: Selos de Mão e derivados, por Caleb Hōenhaim. O senhor detrás da tenda, um velhinho de baixa estatura, careca e com um óculos situado na ponta do nariz, percebeu meu interesse e se aproximou, oferecendo-me o livro por uma quantia mínima. Sem demora, paguei os ryōs devidos ao vendedor e tomei posse da obra, segurando-a em minhas mãos com cuidado, uma vez que a capa bem gasta parecia estar se descolando da lombada. Reiniciei minha caminhada em busca de ir até um lugar que estivesse menos barulhento que aquela feira, e em pouco saí do centro do vilarejo.

Sentei-me em um banco em uma praça vazia. Era um espaço grande, ladrilhado com pedras e com uma grande árvore no meio, que com certeza era constantemente regada para se manter viva em meio ao ambiente seco de Sunagakure. Algumas flores, por igual, também existiam na área, flores de muitas cores: vermelhas, róseas, amarelas. Era um lugar bonito, e excelente para que eu começasse a leitura da obra que eu obtive. O banco de madeira era aconchegante, e recostei-me nele e abri o livro cuidadosamente em busca da primeira página. — Selos de mão, certo? — Monologuei em meio ao vazio, e minhas palavras se perderam no ermo, sem nenhuma resposta. As primeiras páginas ensinavam diversos sinais manuais, alguns que eu já havia aprendido na academia, outros que eram menos ortodoxos, e que serviam apenas para determinados tipos de técnicas ou habilidades elementais. Mesmo assim, memorizei todos os que eu consegui; conhecimento nunca é demais.

Depois de um tempo, os capítulos do livro foram rapidamente devorados por mim. A leitura tornou-se rápida, e as páginas foram deixadas para traz em uma velocidade impressionante, até mesmo para mim, que não sou um hábil leitor. Entre esses capítulos, o livro ensinava como melhorar sua postura ao fazer um selo de mão, e até mesmo como aprimorar sua velocidade ao executá-los. Foi um aprendizado formidável, que terminou depois de algumas horas. Eu me mantive vidrado na obra e, quando ela terminou, eu falei: — Acabou? Mas já? — Disse, surpreso comigo mesmo. Após isso, estava na hora de praticar. Levantei-me do banco e coloquei em prática a postura ensinada pelo livro, e em seguida comecei a efetuar os movimentos com as mãos, firmando os selos. Carneiro, cavalo, cobra, javali, cachorro. Este era um ciclo. Depois, fazia outro ciclo. Dragão, pássaro, rato, macaco, boi. E, em seguida, mais um, até terminar com todos os sinais principais. Contudo, não parei aí. Eu repetia o circuito inúmeras vezes, e tentava cada vez mais aumentar a minha velocidade e aceleração ao iniciar os selos. Aos poucos, minhas mãos que antes eram lentas e rígidas, tornaram-se cada vez mais rápidas, como se elas estivessem dançando em minha frente, bailando aos meus próprios comandos. Logo após algumas horas de prática, senti-me cansado. — Acho que já deu por hoje. — Disse aos ventos, tomando o livro que estava no banco e guardando-o em um de meus bolsos, saindo da praça e retornando até minha casa.

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