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A LUZ DAS TREVAS
Arco 02
Ano 27 DG
Inverno
Meses se passaram desde a missão de investigação ao Castelo da Lua, no País do Vento, que culminou na Batalha da Lua Minguante. Soramaru, o cientista responsável pelos experimentos, morreu em combate, assim como outros ninjas do lado da aliança. Após a missão ser bem-sucedida, mas carregando tantas mortes, Karma, o líder da missão, ficou responsável por relatar às nações o máximo de informações sobre a organização por trás dos crimes agora que estava com o selo enfraquecido e com isso ele revelou o verdadeiro nome dela: Bōryokudan. Ainda não tendo como fornecer mais detalhes, pois o selo se manteve, e precisando de mais pistas antes de investir novamente em uma missão, Karma saiu em missão em nome das Quatro Nações para encontrar o paradeiro dos demais membros da organização — e sua primeira desconfiança recaiu sobre Kumo.

O mundo, no entanto, mudou nestes últimos meses. Os Filhos das Nuvens concluíram a missão de extermínio aos antigos ninjas da vila e implementaram um novo sistema político em Kumo ao se proclamarem o Shōgun sobre as ordens não de um pai, mas do Tennō; e assim ela se manteve mais fechada do que nunca. Em Konoha a situação ficou complicada após a morte de Chokorabu ao que parece estar levando a vila ao estado de uma guerra civil envolvendo dois clãs como pivôs. Suna tem visto uma movimentação popular contra a atual liderança da vila após o fracasso em trazer a glória prometida ao país. Já em Kiri a troca de Mizukage e a morte de ninjas importantes desestabilizaram a política interna e externa da vila. E em Iwa cada dia mais a Resistência vai se tornando popular entre os civis que estão cansados demais da fraqueza do poderio militar ninja. Quem está se aproveitando destes pequenos caos parece ser as famílias do submundo, cada vez mais presentes e usando o exílio de inúmeros criminosos para Kayabuki como forma de recrutar um exército cada vez maior.

E distante dos olhares mundanos o líder da Bōryokudan, Gyangu-sama, se incomoda com os passos de Karma.
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SHION
SHION#7417
Shion é o fundador do RPG Akatsuki, tendo ingressado no projeto em 2010. Em 2015, ele se afastou da administração para focar em marketing e finanças, mas retornou em 2019 para reassumir a liderança da equipe, com foco na gestão de staff, criação de eventos e marketing. Em 2023, Shion encerrou sua participação nos arcos, mas continua trabalhando no desenvolvimento de sistemas e no marketing do RPG. Sua frase inspiradora é "Meu objetivo não é agradar os outros, mas fazer o meu trabalho bem feito", refletindo sua abordagem profissional e comprometimento em manter a qualidade do projeto.
Angell
ANGELL#3815
Angell é jogadora de RPG narrativo desde 2011. Conheceu e se juntou à comunidade do Akatsuki em fevereiro de 2019, e se tornou parte da administração em outubro do mesmo ano. Hoje, é responsável por desenvolver, balancear, adequar e revisar as regras do sistema, equilibrando-as entre a série e o fórum, além de auxiliar na manutenção das demais áreas deste. Fora do Akatsuki, apaixonada por leitura e escrita, apesar de amante da música, é bacharela e licenciada em Letras.
Indra
INDRA#6662
Oblivion é jogador do NRPGA desde 2019, mas é jogador de RPG a mais de dez anos. Começou como narrador em 2019, passando um período fora e voltando em 2020, onde subiu para Moderador, cargo que permaneceu por mais de um ano, ficando responsável principalmente pela Modificação de Inventários, até se tornar Administrador. Fora do RPG, gosta de futebol, escrever histórias e atualmente busca terminar sua faculdade de Contabilidade.
Wolf
Wolf#9564
Wolf é jogador do NRPGA desde fevereiro de 2020, tendo encontrado o fórum por meio de amigos, afastando-se em dezembro do mesmo ano, mas retornando em janeiro de 2022. É jogador de RPG desde 2012, embora seu primeiro fórum tenha sido o Akatsuki. Atua como moderador desde a passagem anterior, se dedicando as funções até se tornar administrador em outubro de 2022. Fora do RPG cursa a faculdade de Direito, quase em sua conclusão, bem como tem grande interesse por futebol, sendo um flamenguista doente.
Mako
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Mako é membro do Naruto RPG Akatsuki desde meados de 2012. Seu interesse por um ambiente de diversão e melhorias ao sistema o levou a ser membro da Staff pouco tempo depois. É o responsável pela criação do sistema em vigor desde 2016, tendo trabalhado na manutenção dele até 2021, quando precisou de uma breve pausa por questões pessoais. Dois anos depois, Mako volta ao Naruto RPG Akatsuki como Game Master, retornando a posição de Desenvolvedor de Sistema. E ainda mantém uma carreira como escritor de ficção e editor de livros fora do RPG, além de ser bacharel em psicologia. Seu maior objetivo como GM é criar um ambiente saudável e um jogo cada vez mais divertido para o público.
Akeido
Akeido#1291
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Havilliard
Havilliard#3423
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Karma Shugonin.

A noite havia caído e o ar estava gélido. Ainda era inverno em Konohagakure, e a morte do líder já havia se espalhado pelo vilarejo, assim como a notícia de um novo líder, todavia, aquilo não agradava Shizuke, e por conta deste desagrado que Saori jogou a carta pela janela aberta da casa do Jonin, convidando-o para os portões do vilarejo. Na carta só tinha local e horário, e lá, ele descobriria todo o resto; a mulher sumiu num vórtice negro, deixando nada mais que seu cheiro e o grasnar de um dos seus corvos para trás.

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Apesar de minhas pretensões serem vãs, quase uma afronta infantil diante da votação, fiquei um tanto incomodado com a eleição daquela figura que só passei a conhecer de nome. Não que eu conhecesse muitas pessoas no vilarejo — só me lembrava de meus alunos e um punhado de outros que me haviam acompanhado por missões e outras tarefas. Não era inveja ou coisa similar, mas uma sensação de que cada figura que tomasse aquele lugar e se adereçasse com o chapéu de aba larga verde seria um empecilho em meus planos, mesmo que eu não fizesse senão protela-lo. Estava deitado na cama, encarando o teto branco do quarto, deixando a brisa gélida do começo da noite entrar pela janela e balançar um pouco as cortinas e os lençóis.

Percebi o grasnar que veio de fora antes da carta que fora atirada janela adentro, pela escuridão das sombras que se projetavam como longos dedos sobre minha cama e eu. Ouvi um som que parecia o de algo sendo sugado e então despertei num ímpeto, lançando para o lado a roupa de cama e me colocando de pé. Alcancei as espadas e as amarrei nas costas — o outro par já tilintava na cintura —, em xis, me apoiando no peitoril e observando a noite lá fora. Havia ainda movimento nas ruas, comércios fechando e pessoas voltando as suas casas. Voltei olhar para o interior do quarto e vi o pergaminho. Era conciso, o mais conciso que se permitia. Uma localização, nos portões da vila — porque sempre tinha de ser lá?, pensei, um lugar que não tinha nada de misterioso ou reservado — e um horário, próximo. Parti sem demora.

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Karma Shugonin.

Ao passo em que o garoto chegou, o olho carmesim com três vírgulas de Saori notou tudo que este tinha a oferecer, e não era lá muita coisa: mas era óbvio que assim que este fosse convocado, tudo mudaria. —— Yo. —— disse a jovem erguendo a canhota num gesto amigável, se apresentando ao rapaz de cabelos negros. —— Shizuke, não é? Prazer, me chamo Saori. ——  complementou, estendendo a destra para o rapaz num outro gesto amigável. Saori era um tanto tímida e introvertida, então não sabia muito bem se expressar; a garota segurou o shinobi pela mão e sumiu com ele num vórtice temporal, indo para um local completamente diferente de Konohagakure - onde estava dia, inclusive.

—— Seu treinamento para o cargo dos Doze Guardiões começa aqui, Shizuke-san. —— falou num tom amistoso mas estampando um sorriso vil. Saori desapareceu e deixou o ilusionista a mercê do ambiente. Sua missão? Descobrir onde a garota repousava, mas nesse meio tempo deveria também aprender a convocar a técnica de Shiiva. O templo qual o garoto estava ensinaria-o isso.

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Cheguei ao ponto indicado, abraçado pelas sombras que o grande arco que abrigava os portões lançava contra mim. O frio tinha algum êxito em penetrar nas roupas, mas mantive minha respiração estável para não tremer, tentando ignorar o efeito do frio sobre o corpo. A massa de escama azuis também sentia o frio e isso a fazia se agitar, inquita, em minhas costas, fazendo suas escamas rasparem contra o tecido da roupa, criando pequenos rasgos. Cruzei a noite com meu olhar, atravessando todos os pontos iluminados pela luz pálida de cada poste individual. O som, um zumbido mecânico, emitido de cada lâmpada, era a trilha sonora da noite. Evitei de relaxar pois apesar da respiração estar constante e cronometrada eu ainda precisava de algum foco e não podia ignorar a estranheza do convite. De súbito, uma voz se colocou acima dos zumbidos e chegou aos meus ouvidos. "Yo." Não me precipitei, só levei meus olhos até ela. Era pequena e trajava roupas pretas, de modo que só seus olhos escarlates se destacassem. Ergui minha mão para cumprimentá-la, mas parei a meio caminho. Mesmo assim ela me tocou e fui tragado por uma técnica que não entendi bem. Quando me apercebi, estava em outro lugar. A cruz, tatuada em minha testa, coçou, mas resisti a tentação de tirar a faixa bege que a cobria.

O lugar mexeu com minha percepção. Eu jurava que estivera no início da noite até agora — a paisagem que assomava diante de mim era diurna, com o sol radiante logo acima. A construção decrépita não deixava de ser convidativa e subi seus degraus, na direção do interior, conforme aquela voz feminina me instruía pouco antes de desaparecer. Tudo me parecia uma ilusão, portanto não deixei a surpresa transparecer, desviar a atenção é o pior dos crimes ao se lidar com qualquer conjuração do gênero. Após os degraus, no terreno plano do que parecia ser um templo abandonado, me vi cercado de paredes ilustradas, pinturas de um tempo remoto, imagens místicas, cenas que não podiam ser recriadas neste mundo onde o extraordinário se tornou tão mundano. Senti meu corpo reagir àquelas pinturas, o que achei estranho, mas logo me lembrei da sensação que me invadiu pouco antes de ser sugado no vórtice que me trouxe para cá, como se um corpo estranho entrasse em mim. As imagens nas paredes não me tinham significado algum, mas era fácil prever que se tratavam de alguma preparação ritualística. Contudo, o que me incomodava era: de maneira tão arbitrária, alguém julgou-me capaz de ser um guardião, de proteger o mesmo homem com quem eu havia falhado tão miseravelmente ao tentar recuperar sua filha. Me virei procurando uma alma com quem gritar, para dizer que era um equívoco e que tudo estava errado, que eu era fraco e falho, um irresponsável incapaz de corresponder a quaisquer expectativas lançadas sobre mim. Então a paz me sobreveio, como que inspirada por uma energia que eu não conseguia compreender, como que inspirada por imagens ritualísticas, como aquelas que me rodeavam e sugeriam o conhecimento milenar de Kannon.

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Karma Shugonin.

O vento soprou dentro daquele templo, por mais estranho que fosse, ele soprou. Os archotes pendurados na parede acenderam concomitantemente com a voz que dissera Olá entre a escuridão, que logo mais deu passos a frente e se revelou como a garota de outrora. Não era ela, de fato, mas sim uma cópia. O indicador da garota fora apontado para a parede próxima do jovem de cabelos negros, iluminando-se quando a mesma fez: era uma espécie de projeção realizando o passo a passo para invocar Shiva. —— Você falhou com ele, mas agora você não falhará. Você será o nosso guardião, não de Konohagakure. Você será o guardião de Shaka. —— A voz soou melódica nos ouvidos de Shizuke. Saori sorriu, deixando o homem treinar em paz.

O vento soprou novamente, trazendo consigo uma mensagem: "Quando acabar e Shiiva estiver sob seu domínio, busque-me. Estou no final deste templo. Lá, e apenas lá, poderemos falar sobre sua convocação, Shizuke." dissipando-se em seguida. Os archotes nas paredes do templo trepidaram, deixando apenas a sombra do homem à mostra naquele ambiente escuro e úmido. Era hora do guardião se provar como merecedor daquele título.

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Um sopro fantasmagórico veio e acendeu os archotes, até então despercebidos para mim. Senti um calafrio percorrer minha espinha da base até a nuca, eriçando todos os pelos do corpo. Resisti à tentação de deslizar minha mão até a cintura, agarrando a infame espada de punho verde — as más línguas diziam que ela podia virar uma cobra, se o portador também tivesse afinidade com os tais animais. Havia feito o pacto com corvos portanto nunca pude testar a veracidade do rumor. A garota voltou a surgir diante de mim, seus olhos escarlates pulsando na luz pálida do fogo, um contraste a pele branca e ao corpo diminuto, quase compactado em suas vestes negras discretas. O dedo mirou as ilustrações nas paredes e dediquei minha atenção para elas uma outra vez, atento aos desenhos budistas que a princípio julguei meras obras de arte ritualísticas. Agora, porém, sentia, de alguma forma, aquela energia a emanar para mim e dentro de mim.  Chequei os bolsos: ainda havia cigarros e meu isqueiro, alguns pedaços de papel amassados, anotações, supus, e fiapos de tecido que se soltaram da camisa.

A falha, uma vez mais em evidência, não mais nos atos, agora, na fala misteriosa daquela voz que em nada combinava com o aspecto infantilizado e frágil da mulher. Uma vez mais, como um sopro fantasmagórico aquela voz me veio. A mensagem me dizia para procurar o fim do templo, mas mesmo à luz dos archotes enxergava com dificuldade o que estava distante. A luz, quando produzida assim, naturalmente, tem suas limitações. Caminhei, hesitante, confesso, mas com as mãos firmes, apertando os dedos contra as palmas. A energia, misterioso, revirava minhas estranhas a cada passo, sussurrando aquele nome que me vinha como uma enxaqueca, em martelas firmes porém breves — "Shaka", repeti, sentindo nova pontada nas têmporas. Que chamado estranho.

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Karma Shugonin.

E sobreveio o chamado juntamente de uma repentina enxaqueca na mente do espadachim. O vento não mais soprou em sua orelha ou archotes mágicos acenderam na parede, não, aquilo era pior, bem pior. O breu tomou conta do ambiente e o homem se viu mergulhado na escuridão, ouvindo os próprios passos enquanto caminhava. O gemido de uma mulher ribombou por entre as paredes do templo, mas não era um gemido de prazer, não, era angústia: Shiiva chamava por seu guardião, e só ele. Em seu âmago ele saberia o que fazer, do contrário, a morte era iminente.

Busque, cace, e mate-o. Ordenou a voz mental do próprio homem. Mas quem era tal pessoa, com quem ele deveria fazer tais coisas? Conforme os passos eram dados, as luzes do astro solar invadiam o templo eremita, revelando uma mulher largada no solo enquanto as mil mãos de Kannon a protegia. Esta suspirou de alívio ao ver o homem, mas as mãos luminosas viajaram em sua direção, velozes; cabia ao próprio defendê-las com as suas.

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O chamado era um eco intermitente no interior de minha cabeça, como o badalar de um sino ou o clangor de espadas se chocando. Minha visão foi tomada de mim, num assalto — ou então todas as luzes se apagaram, assim de súbito, não sei —, e me lembrei daquela cena diante de um corvo misterioso que me oferecera seu contrato e servidão. Agora, não parecia muito diferente com aquelas vozes martelando minha mente sem que nada eu pudesse fazer, nem mesmo a barreira mental da técnica ocular. Arrastei os pés, cauteloso, mas o som era excruciante, como correntes arrastadas. Meu coração batia forte e seco dentro do peito, audível para mim. Resisti ao temor, segurei tudo dentro, inescrutável, e continuei caminhando, mesmo quando escutei aquele som horrível, um guincho feminino de pura, profunda agonia. Contudo, aquilo não me afastou. Pelo contrário. Me senti compelido a avançar e avançar, arrastando os pés um pouco mais rápido até que voltei a dar passadas seguras. Mais comandos, dessa vez muito mais imperativos, verdadeiras ordens.

Encontrei uma figura que jazia sobre o piso do templo, revelada às luzes do sol, que voltavam a invadir o interior do local. Seu corpo era resguardado por mãos protetoras, douradas e brilhantes, que me visaram num piscar de olhos, assim que ameacei avançar sobre ela — ainda que não tivesse intenção hostil alguma. Meu corpo, ou melhor, algo reagiu: mãos douradas saltam de minhas costas, lançadas acima dos ombros para combaterem mãos semelhantes do outro lado, que me alvejavam. O choque causou um estrondo e meu corpo sentiu um pouco do impacto, a dor se espalhando pelos ossos como se esses fossem condutores. Parei e observei, inerte, as mãos ao meu redor, como as dela. Acendi um cigarro.

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Karma Shugonin.

O choque entre os punhos cerrados findou no instante seguinte, quando a garota jogada no chão moveu a mão com muita esforço. Seu guardião desapareceu no ar, deixando nada mais que um rastro luminoso para trás. Me ajude. murmurou, mas sua voz não saiu, e mesmo assim Shizuke a escutou; na verdade, a garota falava por telepatia - algo similar ao clã Yamanaka. A garota sentou-se após um esforço moderado, aguardando a ajuda do homem. Mentalmente ela o agradecia por ter dominado as mãos de Kannon para salvá-la.

Um vórtice negro surgiu, repentino, em frente ambas pessoas ali. Era Saori. A garota trazia consigo um pergaminho totalmente esbranquiçado e apontava-o para o guardião, para ele pegá-lo. —— É hora de iniciá-lo. —— soou Saori, imponente.  

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Logo após o impacto ruidoso de infindáveis mãos, o silencio caiu sobre o templo. Todas as mãos desapareceram, inclusive as minhas, surgindo uma sensação de cansaço momentâneo, um êxtase esmagador. Inalei um pouco da fumaça do cigarro e depois o descartei no chão do templo, pisando para apagar a chama. A garota jazia poucos metros diante de mim, jogada no chão e rendida, como se esperasse alguma ajuda minha além de ter eliminado aquelas mãos, que a princípio julguei protetivas mas que agora mais me pareciam prende-la naquele aperto. A voz surgiu sem que ela abrisse a boca, penetrando minha mente. Estava ficando repetitivo, todas aquelas vozes na minha cabeça, como se todo mundo com quem eu cruzasse fosse dotado daquele mesmo poder estranho de se comunicar sem mover os lábios. Me aproximei conforme ela se sentava, oferecendo uma mão para ela se apoiar e ficar de pé. Se aceitasse a ajuda, pensei, seus dedos também cheirariam a tabaco. Paciência.

Me virei para procura de onde vinha a luz que iluminara pouco antes o ponto em que estávamos, mas o que encontrei foi o vórtice que rasgava o tecido da realidade, trazendo aquela mesma mulher de olhos escarlates e corpo pequeno. Dessa vez, me trazia algo. Quanto a iniciação, embora eu não soubesse com precisão de que se tratava, tinha uma vaga ideia. Todas as vozes e aqueles nomes, as pinturas na parede — existia relação entre tudo isso e um grupo seleto de pessoas no País do Fogo, mas pelo meu saber esse grupo estava extinto, ou ao menos seus membros se escondiam muito bem. Mas aquele nome... "Shaka", não se encaixava nisso.

"Quem é Shaka?", perguntei, apontando para as paredes pintadas. Embora o nome dele não fosse apresentado nas pinturas as indiquei como forma de esclarecer tudo — qual era, afinal, a relação entre aquele templo e o nome que soou tão dolorido em minha cabeça?

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IO tocou as mãos de Shizuke, notando os calos dessas. A mulher fitou-o de cima abaixo e notou os motivos das mãos serem assim: o conjunto de lâminas em sua cintura. Um espadachim. A garota estampou um sorriso em seus pequenos lábios rosados, apertando com mais força a mão do seu guardião. O cheiro de tabaco impregnou suas narinas, além de sua mão, mas a jovem não ligou. Saori sorriu com a pergunta do homem. —— Quem é Shaka? Um Deus. Na verdade, O Deus. O homem que irá acabar com esse mundo, na verdade, mudá-lo por inteiro. Ninjas, hierarquias, guerras... ou invasões. —— sorriu maliciosamente. —— Não irão mais ocorrer. Shaka é meu Deus, e agora seu. —— Saori estendeu a destra para Shizuke.

Gotículas de água começaram a cair. O tempo fechou, as nuvens outrora brancas que davam passagem aos raios solares deram lugar as negras que traziam consigo apenas a chuva. Uma tempestade iniciou-se repentinamente. —— Sinto que posso esperar muito de você, Shizuke-san. —— a garota sorriu, ainda com a destra estendida ao homem.

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Vi como ela fitou as armas na minha cintura e quase quis responder que não tinha mais o jeito para as espadas. Me limitava a usar mais frequentemente aquelas que levava em minhas costas, pois suas habilidades dependiam pouco de minha perícia como espadachim, coisa que perdi com o tempo. Quis responder, mas não o fiz. Guardei para mim o fato de que a mulher, apesar de sua situação, deveria ser uma boa observadora, pela forma como se importava em aplicar uma pressão sutil sobre a palma de minha mão, para sentir os calos que teimavam em sumir. Os usos ocasionais da espada com escamas de tubarão devia estar preservando-os. Tinha um aperto de mão firme. E sorriu. Não sorri de volta: a mudança súbita de semblante e a forma como ela rapidamente retomara sua confiança ao ser resgatada me dava a entender que havia algo ensaiado naquilo. Confirmar, por ora, seria impossível, portanto me limitei a desconfiar enquanto ouvia ela responder a minha pergunta sobre Shaka.

Ele era um Deus, mas ao mesmo tempo a mulher não tinha medo em proferir a palavra homem numa mesma frase que fazia referência ele. Um Deus palpável, pensei, crível. Dessa vez foi a mulher de olhos vermelhos que estendeu a mão e, para minha surpresa, estendeu-a para mim. Impulsivamente, ainda pensando sobre o Deus-homem, aceitei sua palma contra a minha. A mudança foi imediata, as paredes ganhando vida, além daquela imprimida pelos desenhos coloridos, a história contada pela boca da mulher como se fosse alguma épica ou conto, ainda que me parecesse muito real. Fiquei a escutar, cada vez mais convencido a me juntar a aquele homem que sequer conhecia ainda.

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As gravuras nas paredes mostraram pouco a pouco a história para o Guardião. Shaka era um homem, e ao mesmo tempo, um Deus. Ele era um ser cujas falhas eram comuns, como de qualquer outro, e isso que o tornava um ser perfeito. A história da guerra entre os Hattoris e Karmas já aconteciam há décadas, talvez milênios, ou talvez até mesmo desde a criação. Era impossível dizer com exatidão quando isto começou, ou quando poderia terminar, mas se terminasse, seria Karma o vencedor. As feridas de IO haviam se curado, e ela agora estava ao lado de Saori. Irmã. soou a voz melódica da garota. Ele É o escolhido. concluiu. Saori meneou com a cabeça em afirmação, fazendo a pequena e aparentemente frágil IO estampar um sorriso.

—— Ele será seu Deus agora. Nós, Karmas, portamos a tatuagem de uma lua e um sol, juntos, como uma espécie de Yin Yang. Os nossos arqui inimigos, Hattoris, portam um lobo. O que mais você quer saber, garoto? —— Indagou Saori por fim.

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As paredes se animavam e os desenhos ganhavam vida, apresentando uma história milenar: de Shaka, aquela divindade tão humana, contra os servos de seu algoz, uma guerra que acontecia desde tempos imemoriais e, mesmo assim, passava despercebida a todos os olhares mundo afora. Eu mesmo nunca teria ideia do conflito não fosse esse estranho episódio — a convocação, o templo, as mulheres — para me por a par de tudo. A sensação de estranheza, a inquietude provocada por ambas, amainava um pouco agora, embora ainda permanecesse a sensação de suspeita quanto a forma com que tudo acontecera, como uma fagulha de luz bem fraca e pálida, quase apagada. A chance, por ora, era de me juntar àquilo. Matar sem propósito, seguindo cega e lealmente os comandos de um oficial qualquer responsável por repassar missões ou algum burocrata com quem nunca tive contato, parecia-me inaceitável, mesmo quando eu posto em situações de vida ou morte, matar ou morrer; agora, que tinha a chance de traçar um caminho que me possibilitaria apagar toda a ordem pré-estabelecida do mundo, aquela mesma ordem datada de tempos esquecidos atualmente, fundamentada em nomes esquecidos e valores esquecidos — que mal haveria?

Me virei à mulher pequena de olhos escarlates. Afastei a gola da camisa, mostrando o torso logo abaixo do pescoço, os dedos arriando o tecido de linho. "Eu aceito o sol e a lua. Quando começarei?"

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E assim deu-se inicio ao fim do mundo. Shizuke havia sido recrutado, e a marca do sol & lua havia sido posta no local que este escolhera. A pergunta do homem não fora respondida de imediato, Saori matutou a resposta na mente por algum tempo, mas IO tomou a frente dessa vez. Agora. soou a voz melódica da mulher. Saori sorriu, e puxou o homem pela gola, sugando-o no vórtice negro de volta ao portão do vilarejo da folha. —— Agora você luta por Shaka, nós somos companheiros. —— disse, estendendo a destra. IO franziu o cenho enquanto olhava para sua irmã, e percebeu que seu guardião já não tinha muitas dúvidas do que fazer. O que fará agora? indagou, por fim.

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Dizer que eu não tinha dúvidas seria forte demais. Me limitei a concordar com o propósito da seita enquanto me fosse conveniente — restaurar o mundo a sua forma inicial, caótica e sem forma, favoreceria meus objetivos futuros. Facilitaria alianças, me livraria de alguns apuros. Estendi a mão e apertei a destra da mulher.

Sua pergunta, que devia ter algum sentido além da obviedade visível, respondi sem pensar muito. "Vou fumar e beber, depois penso no resto." Mas o disse com toda a seriedade do mundo, pois era assim mesmo que pretendia responder. Acendi um cigarro e deixei apoiado na boca enquanto procurava o isqueiro. Achei-o no bolso da camisa, aquele que ficava diante do meu peito, ao lado esquerdo do torso. "Vocês fumam?", perguntei e se elas respondessem afirmativamente eu daria um cigarro do maço e emprestaria o isqueiro.

Depois me virei a comecei a andar para fora dali, na paisagem que voltara ao normal: uma vez mais, a Folha. Dei algumas baforadas no cigarro, deixando rastros de fumaça que subiam pelos meus ombros conforme eu caminhava na direção daquele infame bar da região central da vila. Oficiais em fim de expediente, caixeiros-viajante, comerciantes de tecidos e vagabundos — a alta sociedade da noite. Fui beber, sem olhar para trás para confirmar se era seguido pela dupla ou se beberia sozinho.

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—— Fumar e beber, eh? —— Saori arqueou a sobrancelha, incrédula com o que acabara de escutar. Você acabou de se tornar um dos seguidores de um Deus e simplesmente vai beber? Irrompeu IO, incrédula com a cara de pau do homem. —— Não, não fumamos, mas obrigada. —— respondeu Saori, um tanto quanto desapontada com o que o homem tinha a fazer. —— Tome cuidado por aí, guardião. Você não sabe mas seus inimigos estão mais próximos do que imagina. —— Sorriu, observando-o caminhar para longe.

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Ao menos terei alguma companhia, pensei. Por ora deveria ser tudo. Me despedi com um sutil meneio de cabeça, rumando os metros finais em direção à entrada do bar. O clima seco, abafado do interior; as luzes pálidas e oscilantes, as lâmpadas que não funcionavam em todos os pontos; o cheiro forte de odores corporais, cerveja e outras coisas mais; o leve zumbido, um ruído branco ali dentro, as vozes que pareciam temer se exaltarem acima do volume geral; jogos de cartas nas mesas, batidas nos tampos, cartas no chão; o balconista debruçado nas próprias mãos, os cotovelos contra as tábuas de madeira.

O bar recendia a uma mistura desagradável de cheiros e sons, com uma sensação pesada no ar, como fuligem sujando a pele. Inalei a fumaça do cigarro até que o fogo alcançou o filtro. Descartei no chão mesmo, onde ele se juntou a uma infinidade de pontas mortas. Shaka, pensei, soava engraçado na língua. Havia o outro nome também, algo diferente. "Hattori", algo assim. O outro lado da luta, um lado que, pelo que havia entendido, lutava para manter as coisas como estavam. Como alguém poderia se aprazer do estado atual do mundo? Suspirei e me aproximei do balcão, pedindo um gole de qualquer coisa com álcool que não fosse cerveja azeda e quente.

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—— Ele foi um bom achado, irmã. —— disse Saori. Sim, eu sei. Ele trará prosperidade para nós num futuro próximo. disse IO, estampando um sorriso em sua face. As irmãs se olharam e sorriram uma para outra. IO começou a caminhar para as florestas, enquanto Saori deixou o local num vórtice. A aliança estava firmada, e o guardião o protegeria.

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A luz fraquejava na lâmpada que pairava acima da cabeça do balconista, emitia alguns zumbidos, piscava, desligava uns minutos e depois voltava. Passei a mão diante dos olhos, tentando afastar os borrões amarelados da luz incindindo diretamente nos meus olhos. Bebi um gole daquele líquido de cor oleada que nem vi ser servido — ele devia tê-lo colocado no copo enquanto eu ainda esfregava os olhos — e repousei o copo no balcão, virando o pescoço para encarar por sobre os ombros. Era difícil ver nos cantos escuros do bar e eu sabia que ali sempre estava uma ou outra figura hostil, um homem do submundo, um viajante suspeito ou um contrabandista. Sempre fui tolerante, afinal eles viviam daquela forma por um motivo: a estruturação do mundo os enquadrava como pessoas a margem da lei, figuras que deveriam ser temidas, odiadas, presas e abatidas. "Shaka", sussurrei, para ver se aquilo soava da mesma forma como em minha mente. Tomei outro gole da bebida e deixei o copo ali, junto com uns trocados. Me levantei, deixei a cadeira no lugar e saí. O ambiente quase hostil para o corpo que era o bar foi substituído pela brisa fresca do dia em transição, Konohagakure ao ar livre.

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