Depois de conhecer Lime e treinar com ela, Kyo ficou fascinado com sua fraqueza. Precisava se tornar mais forte e, para tanto, não conseguia pensar em nada que não fosse melhorar as habilidades de espada. Ainda não conhecia todos seus potenciais como shinobi e demoraria um pouco para chegar lá. Já era manhã quando ele resolveu praticar sua ambidestria pela primeira vez, uma tática que já ouvira de seu pai desde pequeno, direta e indiretamente. Seu irmão era um espadachim ambidestro assim como o pai. Os Karakura costumavam ser assim, pois tinham mais chances de vencer em batalha. Usando uma ou até mais espadas, a ambidestria dava maiores possibilidades tanto ofensivamente quanto defensivamente. Para começar o treinamento ele tentou amarrar coisas com a canhota, pois era o processo mais básico antes de começar a segurar uma katana. Determinado a desenvolver a habilidade, ele estava disposto a ficar o dia todo praticando um mero nó se fosse necessário. Começou cedo, ao nascer do sol no horizonte frio de inverno, e continuou ao longo da manhã até a hora do almoço. Retornou à cidade e comprou dois obentôs e voltou ao campo de treinamento. Comeu o primeiro e deixou o segundo de lado para mais tarde, voltando aos treinamentos tão diferentes de continuar dando nó com uma mão só. A paciência não duraria tanto assim quanto ele imaginava.

Já era começo de tarde quando ele finalmente conseguiu dominar a prática do nó. Conseguia fazê-lo com ambas as mãos, mas isso era só o começo. Diferente de alguém da ala médica, dar nós não era muito necessário na vida de um samurai, exceto se ele usasse uma arma lendária com poderes assim — o que não era o caso de Kyo. Terminado os nós, ele se ergueu e sacou a espada com a direita, sentindo o peso, o balanço e toda sua glória. Sentia-se mais adulto e heroico ao segurar uma katana. Pensava, inevitavelmente, em seu irmão falecido, mas não causava nenhuma dor. Dava-lhe ainda mais coragem e forças para seguir e se tornar, pelo menos, metade do que seu irmão um dia foi. Jogou a espada para a canhota, segurando firme, ainda um pouco atrapalhado. Balançou devagar, percebendo como o peso e o balanço da espada parecia diferente naquela mão. Precisava começar devagar, mas aumentaria gradativamente, aumentando a velocidade dos movimentos e a força. O cansaço começava a tomar conta dele, embora não tivesse jogado todo seu físico ainda. Seu cérebro estava cansado e entediado. Por isso, pensou melhor e começou logo pelo mais difícil: realizou um balanço firme com toda sua força e velocidade e a espada acabou escapando da mão, cravando no chão. Segurou novamente a espada e voltou ás tentativas de produzir movimentos precisos usando todo seu ardor físico, para assim treinar também seu fôlego, sua resistência. Continuou assim até o fim da tarde, praticando cortes diretos e firmes com a mão esquerda. A espada voou algumas vezes, cravando-se no chão em todas elas.

Estava exausto ao fim da tarde e botou as mãos aos joelhos, mas decidiu continuar, mesmo que isso ultrapassasse os limites de sua durabilidade. Queria se tornar mais forte e mais resistente também. Continuou até conseguir realizar os movimentos mais importantes com a mão esquerda e então começou a alternar entre as mãos para ter certeza de sentir a mesma coisa ao segurar em ambas. Seu cansaço parecia não ter continuado ali, como se tivesse desaparecido. A lâmina dançava no ar perfeitamente tanto usada com a mão direita quanto com a esquerda. Kyo havia dominado aquela arte.

Considerações.: