O frio que carregava o inverno trazia consigo um clima álgido na vila da nuvem. A brisa suave dos ventos gélidos faziam a copa das arvores farfalharem. As pessoas agasalhadas, de certa forma, exteriorizavam um certo tipo de charme e elegância. Um clima perfeito para se sentar sob a janela de casa e tomar uma bela xícara de café. Assim o fiz. O pequeno recipiente fumegante, com o divino líquido preto, me esperava sobre a escrivaninha embaixo da janela. — Que delícia... — Nada melhor que um pouco de açúcar para estimular o cérebro. Enquanto eu continuava a me deliciar com cada gota de cafeína ingerida, escutei batidas irritantes na porta de minha casa. Levantei-me, enquanto sacudia o pó de meu corpo. — Já vai! — Avisei, irritada. Contra minha vontade, me dirigi lentamente a pequena porta de madeira que separava a ruelas da vila de minha residência. Sem bambear, abri a porta e, para minha surpresa, um homem de jaleco ali estava. Com poucas palavras, o homem me convocou para ir ao quartel da vila e, também, me avisou que eu teria a chance de se tornar uma aluna do centro tecnológico. — Maravilha! — Gritei, em animação.

[...]

Trajada a caráter, eu estava pronta para fazer, o que quer que seja, que tenham me convocado para fazer. Já na frente do quartel, adentrei sem prestar muita atenção nas coisas. E, finalmente, cheguei no laboratório. Era incrível, cheio de manequins do corpo humano, maquinários desconhecidos por mim, artigos de todo tipo e diversas outras coisas. De fato, eu estava realizando um sonho de criança. Não deixei transparecer nenhuma emoção, não queria que eles me julgassem apenas pela minha empolgação. Vou mostrar para o mundo que eu me tornarei uma cientista renomada. Mantive uma postura ereta e confiante, digna de uma futura cientista. Só me restava, agora, aguardar as instruções.

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Pequenas ondas de pressão abalaram a estrutura do prédio juntamente com um som ensurdecedor. Som este que ecoou por toda a extensão do laboratório. O que será que tinha acontecido para estragar meu momento? Era o que eu me perguntava. A curiosidade tomou meus pensamentos. A nossa guia não se deixou abalar por este problema e continuou o tour normalmente, até que um homem magricelo entrou em nosso caminho. Ele parecia buscar por um assistente, para ajudar em um experimento. A mulher parecia não estar muito contente com este fato, mas, mesmo assim nos perguntou se alguém teria o interesse de ajuda-lo. — Eu irei! — Involuntariamente, respondi. Foi quase que um reflexo. O cientista parecia contente por alguém ter aceitado a proposta.

Segui aquele homem até a sala onde aparentemente ocorreu a explosão. Existia um pouco de fumaça na sala, dificultava um pouco a minha visão. Tapei meu nariz com a mão esquerda e adentrei a sala. O motivo da explosão foi aquele par de manoplas, esse era o experimento. Interessante, quando os punhos se cerravam a explosão acontecia. Mas obviamente havia algo errado, afinal não era para aquela manopla causar esse alvoroço todo no laboratório. Retirei a mão do nariz e escutei atentamente a pergunta do homem. —  Sou um gênio... — Respondi, Ironicamente. — Desculpe, é meu impulso. Não consigo controlar. — Me desculpei. Puis a mão ao queixo enquanto pensava em uma forma de resolver isso. — Meus conhecimentos... Hm... podem ser considerados medianos. — Concluí.

Resolvi, finalmente, tomar uma atitude. Fiz alguns ajustes na manopla, alterando a intensidade que as chamas eram liberadas ao toque, ativando-se de forma mais tênue e resolvendo o problema de instabilidade. Eu era um prodígio afinal de contas. — Resolvido! — O sorriso no canto de minha boca mostrava minha confiança. Ansiosa, esperei pela reação do cientista.

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O cientista parecia não ter entendido o que eu tinha feito exatamente na manopla. Era simples. Eu não queria demonstrar muita arrogância, mas mesmo assim comecei a contar. — Eu, simplesmente, alterei a intensidade que as chamas eram liberadas. — Expliquei, enquanto andei em círculos pela sala. — O foco era eliminar o problema da instabilidade. — Concluí. Ele aparentava se importar somente com os resultados, e, por isso, me pediu para testar a manopla. Bem, eu tinha completa confiança no meu esforço. O cientista estava me subestimando, é claro que eu iria provar que eu consigo e testaria sem nenhuma objeção.

Seguindo a risca suas instruções, trajei a manopla incendiária em minha mão destra. Mirei no alvos e fechei um dos olhos. A visão, do olho direito, estava completamente focada no alvo, era só disparar o tiro a qualquer momento. — 1... 2.... 3 e.... BAAANG! — Proferi, instantes antes de atirar. Um som alto então percorreu por toda a extensão da pequena sala. Quando o disparo saiu minha mão ficou imóvel no mesmo lugar, o coice estava, definitivamente, corrigido. Tornei minha visão para o alvo na parede e, então, surpresa, arregalei os olhos notando que o alvo foi completamente destruído. As chamas incendiaram, completamente, o pequeno alvo. Via-se somente um pequeno rasto de uma fumaça enegrecida.

— Parece que temos outro problema aqui... — Sussurrei, ao mesmo tempo em que já pensava nas possibilidades de como consertar. A intensidade e a precisão era os principais problemas que afetavam de forma negativa o equipamento. Retirei lentamente a manopla de minha mão enquanto peguei alguns equipamentos necessários para o reparo. A parte que armazenava as chamas antes do disparo estava mal regulada, dando brecha para uma quantidade anormal de fogo ser expelida no processo. Com uma pequena "chave", comecei e logo concluí os reparos. Com isso a manopla conseguiria disparar somente o que era possível para ela, corrigindo o problema de precisão no processo, já que ela estava com uma carga que conseguiria suportar tranquilamente.

Com o equipamento em mãos e um sorriso confiante no rosto, decidi desafia-lo. — Hm... que tal, você testar a manopla agora? — Indaguei, em um tom de desafio. Eu havia plena certeza que eu a corrigi. Um pouco de reconhecimento por parte dele não faria mal algum. Sei que alguns cientistas como ele são frios, mas sei também que ficam felizes quando aprendem e conseguem visualizar o sucesso de suas ideias. Por isso, senti que ele me entenderia.

Por fim, peguei uma bala de café em meus bolsos e comi.

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