Havia chegado na fazenda tão cedo quanto possível. Não perdera muito tempo entre receber oficialmente a missão e se dirigir ao local.

"Não é como se eu tivesse grandes preparações a fazer ou outros compromissos..."

 Era reconfortante estar ao ar livre, viajar sozinho. Essas atividades, que lhe eram prazerosas normalmente, somavam-se ao entusiasmo de Tatsuya com sua primeira missão como shinobi.

"Está longe de uma missão crítica, mas todas as histórias têm começos humildes. Eu tenho que aprender a andar antes de começar a correr"

  Seu entusiasmo logo esbarrou com a realidade. Ao chegar, o cenário que imaginava se desfez com apenas algumas curtas palavras do fazendeiro responsável pelo contrato de missão.

- Essa é uma missão de baixo risco, eu lhe garanto que eu sou mais que suficiente.

Ainda não estava irritado o suficiente pra descer ao nível do velho, mas com certeza estava se aproximando.
- Essa é uma missão de baixo risco, eu lhe garanto que eu sou mais que suficiente. – Disse, mantendo a calma por hora. – Lidar com animais é fácil demais pra um ninja completamente treinado a não ser que sejam animais particularmente grandes ou coisa assim.

  O velho não parecia inteiramente convencido da competência do garoto, mas percebeu que apenas perderia mais tempo com aquilo caso continuasse insistindo.

-Tá, que seja! – Concedeu, irritado. – Só faça o seu trabalho direito, garoto! Vocês são caros demais pra ficarem fazendo nada!

-Eu preciso que o senhor me indique que tipos de animais têm lhe dado trabalho e onde eu deveria procura-los. – Explicou, ainda segurando-se à paciência que lhe sobrava.

  -Javalis, garoto, Javalis! Eles ficam na floresta e passam pelos campos desembestados, pisoteando tudo! Agora pare de me fazer perguntas e vá caçar javalis!
Preferiu não continuar discutindo com aquele velho, antes que colocasse a missão toda a perder por insultá-lo. “Lá se vai a minha paz interior. Eu mereço!”
Seguiu em direção aos campos que o velho lhe indicou nervosamente enquanto tagarelava. De fato, as marcas da passagem de vários javalis eram visíveis na terra, assim como a plantação pisoteada. “Aqui vai ser fácil segui-los. Floresta a dentro já é uma outra história.”

Correu apressadamente na direção em que eles iam. Queria chegar até eles o quanto antes, pois quanto mais tempo se passasse maiores as chances de que ele perdesse a trilha.  Seguiu pelo chão, contrário ao que normalmente faria. Preferia se locomover pelas árvores, pois isso lhe dava uma vantagem interessante caso acabasse em combate, principalmente contra animais selvagens, mas precisava se manter próximo ao solo para rastreá-los. “Não é a minha especialidade, mas eles dificilmente podem contar como discretos.”

A trilha era relativamente fresca, um novo “ataque” havia acontecido horas antes da sua chegada. O bando de animais atrapalhados seguiu floresta adentro e Tatsuya seguiu-os. Logo passou a ouvi-los, agitados, mas não pareciam estar correndo. Sorriu satisfeito por não precisar mais seguir rastros e subiu a árvore mais próxima.

Encontrou a malhada numa clareira, se comportando de maneira inusitada. Alguns andavam sem rumo, outros atacavam as árvores como se fossem rivais, frustrando-se com o resultado de seus ataques. “Eles estão alterados por alguma coisa, provavelmente foi por isso que atacaram as plantações. Provavelmente alguma coisa na sua dieta os está intoxicando.”

Podia postular sobre os motivos disso por quanto tempo desejasse, mas sua missão não era tratar dos animais, era eliminar o problema. Poderia eliminá-los discretamente com shurikens atiradas de cima sem que eles percebessem tudo, mas viu naquilo uma oportunidade. “Eles dificilmente são uma ameaça numa luta, além de serem fáceis de conduzir e rápidos em linha reta. São perfeitos pra treinar.”

Conhecia bem suas qualidades como ninja, e a velocidade não era uma delas. Poderia treinar tentando alcançar os javalis antes de elimina-los, mas pra isso primeiro precisava que eles corressem juntos e em um lugar que pudessem correr em linha reta e sem obstáculos. Guardou mentalmente a localização atual deles e saiu pra procurar um lugar assim. Em poucos minutos encontrou uma trilha. Era um pouco íngreme e tortuosa demais para o que pretendia, mas percebeu que não encontraria tal situação ideal tão facilmente, então decidiu aceitar o que tinha em mãos.

Voltou para onde os javalis estavam e começou a conduzi-los à trilha. Só foi preciso gritar um pouco pra assustá-los e eliminar um deles com uma kunai infundida com chakra atirada das copas das árvores pra fazê-los entender que a resposta certa era fugir. “Bastante inteligente de animais tão estúpidos cooperar.”
Claro, os minutos seguintes mostrariam que os animais eram bem mais espertos do que imaginava. Uma vez guiados até a trilha, Tatsuya achou que havia obtido êxito, mas tudo o que eles fizeram foi se espalhar. “Maravilha, era tudo que eu precisava!”

Seu treinamento regrado se converteu em uma corrida desenfreada atrás de animais selvagens ensandecidos apenas por ter subestimado o “inimigo” e ignorado uma possibilidade básica. “Bem, vivendo e aprendendo.”

Foram horas de corrida atrás dos animais por entre as árvores até que estivesse certo de que todos haviam sido alcançados. “Mais exaustivo do que eu pensava, mas pelo menos eu acho que funcionou... tangencialmente.” Os javalis se espalharam por caminhos com obstáculos demais para que pudessem alcançar uma velocidade muito grande, mas persegui-los por ai em tantas direções diferentes havia exigido muito do seu preparo físico, que também não era um dos seus pontos fortes.
Quando finalmente retornou para a fazenda, ainda cansado, informou ao fazendeiro que havia finalizado e deu uma vaga ideia de onde os corpos estavam, caso ele quisesse ir conferir.
- E você não trouxe eles pra cá, garoto? Carne boa sendo desperdiçada assim!
- Não não, eu trouxe sim. Inclusive eu já preparei eles todos, um belo assado, só disse que eles estavam na floresta pra você ir procurar. Achei que a caminhada ia te fazer bem. Todo mundo precisa de um pouco de lazer e caminhar pela floresta pode ser relaxante.
O fazendeiro podia não ser nenhum acadêmico, mas sabia quando estavam se divertindo as custas dele.
- Moleque linguarudo! Vai embora, vai!
Teria seguido seu caminho, um pouco mais feliz depois de ter irritado o velho com sucesso, mas ainda precisava ser uma pessoa minimamente responsável. "Afinal, se depois der tudo errado a culpa vai ser minha" Suspirou e, num tom mais calmo e conciliador, alertou o velho.

-Eles estavam se comportando como um bando de bêbados. A carne deles talvez não seja própria pro consumo. E vocês podem querer investigar o que causou isso, pra que não aconteça de novo.

O fazendeiro pareceu aceitar melhor esse aviso, diminuindo a animosidade no ar. Só então o rapaz se retirou. Retornou para casa, escreveu um relatório da missão e o entregou, provavelmente mais satisfeito com os frutos do próprio trabalho do que o cliente ficaria. “Mas que eu fiz o que me foi pedido eu fiz.”