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   Era quase meio-dia. Azuka estava voltando para casa, satisfeita com os ryos que conseguira enganando pessoas com um certo truque de dados que aprendera. Como estava orgulhosa de tal feito, não hesitava em caminhar pelas ruas segurando e balançando o bolo de dinheiro. Seu desfile, porém, foi interrompido pelo distorcido murmurar da sua barriga. "Um docinho não deve fazer mal..." - Pensou para si mesma, não querendo diminuir o volume do troféu que conquistara.

   Havia uma nova loja de doces que havia sido inaugurada por perto. Apenas sentindo o cheiro dela, que ficava cada vez mais presente, Azuka perdia-se cada vez mais nos pensamentos. Quase podia sentir o chocolate derretendo em sua boca. Seu transe apenas foi interrompido pelo som da atendente recebendo-a. "Como posso ajudar?" - Disse uma moça simpática atrás do balcão da loja. "Ah, bom..." - Tentando recobrar seu raciocínio, a menina continuou: "Eu acho que eu vou querer... um desse daqui." - Apontando para um pequeno bombom de chocolate. "Pode deixar!" - A voz da atendente era vívida e colorida, que, combinado ao cheiro doce do lugar, fazia com que o interior da loja parecesse um mundo completamente diferente do real. "O custo é de 1000 ryous." - Um pouco salgado para um doce, porém o estômago da Gennin a impedia de pensar duas vezes. "Tudo bem, só vou pegar o..." - Um frio passara pela barriga vazia da menina ao perceber que a sua mão, que antes segurava uma grande quantia de dinheiro, agora estava completamente vazia. "...Meu dinheiro!!" - Sem acreditar no que havia acontecido, Azuka começa a olhar ao redor, procurando aonde seus ryous podem ter parado. "O-olha ali!" - A atendente apontou para a saída da loja, aonde um pequeno gato preto estava correndo para longe. Os olhos da Gennin viajaram como uma águia seguindo sua presa até o gato. "M-maldito! Volta já aqui!" - Indignada por ter sido superada por um felino, a garota voou como um raio em direção ao animal, que, por sua vez, ao perceber que estava sendo seguido, começou a saltar pelas barracas da vila, enquanto soltava constantes "miaus" de nervosismo.

   Horas depois, o sol começava a se pôr. O ambiente começava a se esfriar, e o céu gradualmente revelava a sua coloração alaranjada. Neste cenário, enquanto a maior parte da vila começava a desacelerar suas atividades e o os barulhos constantes do vilarejo ficavam cada vez menos intensos, havia um pequeno foco de confusão que se deslocava pelas ruas: empurrando as pessoas que estavam em seu caminho e até mesmo derrubando barracas comerciais, a Gennin, já suando de cansaço, dedicava todos os seus esforços para alcançar o gato, que, inacreditavelmente, não havia parado de correr até agora. "Meus... meus ryos..." - Ofegante, a menina praguejava contra o felino que era surpreendentemente rápido. "Não pense que vai sair ileso dessa situação..." - A perseguição continuou até o céu escurecer por completo. A menina já estava com as pernas tremendo: nunca correra tanto em sua vida. Porém, persistindo com todas as suas forças, com o seu orgulho na linha, Azuka conseguiu, finalmente, encurralar o gato no topo de uma construção, aonde não havia saída. "Eu..." - Interrompida pela sua necessidade de recuperar o fôlego, a menina continuou. "Eu disse que você não ia sair ileso." - À sua frente, a menina via repousando nas presas do animal o seu bolo de ryous tão almejado. "Finalmente." - Fechou os olhos por alguns instantes, contemplando a vitória que era eminente. Para a sua surpresa, porém, ao abri-los de novo o gato simplesmente havia sumido do telhado da construção. "Eh...?" - Seu olhar virou-se imediatamente para a direção aonde se ouviu um som familiar: a alguns metros de distância, um gavião acabara de capturar o pequeno animal e o levava, pelos ares, gradualmente para mais longe da Gennin. "..." - Sem reação, a garota desmaiou no chão, de cansaço.

   Depois de inúmeras horas, quando as ruas praticamente estavam desertas, com exceção dos patrulheiros, o sol começava lentamente a erguer-se de novo no céu. É nessa hora que a maioria das pessoas começava a acordar e os comércios lentamente se reabriam. Mais um ciclo se completava na aldeia. Porém, em um pequeno beco aonde a luz do sol não penetrara ainda, jazia Azuka, já com olheiras por ter ficado acordada a noite inteira, reunira mapas dos arredores da Vila, os quais ela havia pendurado nas paredes da rua. "Eu... estou quase... meus ryous..." - Esforçando-se para não pegar no sono no meio de seu raciocínio, com os olhos arregalados e com auxílio de um alfinete, a menina demarcava o último local aonde o maldito pássaro poderia ter se escondido. "Eu vou pegá-lo... eu vou..." - A sanidade da menina não parecia estar no seu melhor estado, porém a raiva do animal parecia movê-la como uma máquina.

   Com os materiais que conseguira de última hora, a Gennin havia montado uma pequena armadilha para pegar o animal. Esta consistia em uma pequena rede que acionaria quando o pássaro pousasse encima dela, aonde havia uma pequena quantidade de sementes. "É isso... dessa vez não tem como ele... ele..." - A visão da menina lentamente tornava-se preta. Havia pegado no sono. Sua próxima visão foi apenas a de ela sendo acordada pela pressão exercida pelas cordas, que rapidamente suspenderam-a, presa, no ar. "O-o que??! Nãão!" - Desconsertada, depois da falha do plano, sua tormenta foi concluída ao ver o gato preto andando ao lado do gavião na rua, que seguiam a atendente da loja de doces contando um pequeno bolo de dinheiro. A sua barriga, que grunhia mais do que nunca, parecia relembrar a menina de algo que ela sempre escutava: nunca confiar em ninguém.