A manhã se mostrou insensata quando decidiu permitir que o sol invadisse as frestas da minha janela; o dia mal começara e eu já estava prestes a destruir tudo. A verdade é que eu nunca soube lidar com as maravilhas do amanhecer, pássaros, luz em demasia e todo aquele cheiro de orvalho eram uma droga.

Já era tarde quando um mensageiro bateu na minha porta com a devolutiva da minha indagação ao líder militar da aldeia, eu precisava de tarefas, afinal até mesmo um seguidor de Jashin tinha contas para pagar. Não me dei o trabalho de atendê-lo, estava ante a lareira da sala de estar no momento e o crepitar das chamas anunciava a resposta dos espíritos ante minha prece.

Me arrumei quando terminei a oração e saí agradecido ao Cultuado. A minha bolsa de utensílios estava na perna direita para facilitar o saque, saí acompanhado de dois ninjas para buscar um carregamento de chá no país que levava seu nome.

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Os meus acompanhantes seguiram ao meu lado até chegarmos no País do Chá. Os ares receptivos pareciam não se misturar facilmente com a minha aura assassina, então me debrucei em aceitar, apesar de tudo. Oscilava-me a cada passo e a antiga capa preta cedia pelo vento, encruando no meu âmago a sensação de que estava ali para um dever religioso; esquartejar, se pudesse traduzir.

A rua se estreitava no centro da cidade aonde deveríamos pegar a encomenda, uma leva de homens e mulheres passavam com crianças felizes soprando seus copos, presumi que fosse do mesmo chá que vim buscar. Era como passar por um rebanho de ovelhas e eu era o lobo, no entanto me contive como era de praxe. Estatelei-me em deleito quando vi a fábrica: um amontoado de estruturas de aço sobrepostas, barulho de engrenagens e um belo acabamento. A carroça estava carregada e pronta para partir e o pagamento estava com o meu acompanhante, ele efetuou a troca e saímos com os cavalos.

Viajar de noite significava perigo e alguém como eu estava sempre receoso com emboscadas, pois passei a vida toda numa caça às bruxas, esquivando-me de hereges que não entendiam a grandeza da minha causa. Perdia-me em devaneios quando a roda quebrou, antes que a carroça enguiçasse eu saltei em defesa para averiguar o que ocorrera. — Droga. — Bastou meia volta e uma dose de juízo para saber que não se tratava de um inimigo, embora eu preferisse lidar com um esquadrão de matadores do que uma roda quebrada.

A trava que firma os círculos da roda tinha se rompido e precisei manifestar minha natureza elemental através de uma lâmina para destacar um galho rígido que pudesse substituir. — É o melhor que posso fazer. — Disse aos que vinham comigo. Tomei uma solução rápida porque sabia dos riscos de continuar com aquilo daquela maneira.

Eu estava repousando no banco da carroça quando os cavalos pararam de trotar, tínhamos chegado até o maluco obcecado por chá que comprava uma carroça apenas para sua família. Ergui-me e pareci apresentável, então parti no fim de tudo.

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